Saudações.

Obrigado, sua visita é indispensável para a manutenção deste espaço. Aqui você vai encontrar textos, vídeos, indicação de leitura, ou somente, um ponto de passa tempo, criado com muita atenção e que se volta ao cotidiano e sua filosófia diária. Sempre com uma essência única de ironia, que somente será compreendida, com uma boa dose de comparação, seja entre o autor e sua escrita, ou que seja, entre o tema da escrita e a história da humanidade. Ao lado, no meu perfil detalhei em linhas gerais, um pouco da visão de mundo deste autor, que ora escreve, não deixe de ler, facilitará sua compreenção e nossa comunicação. Embarque sem medo, boa viagem e no final se possível deixe sua marca. Pode ser em forma de comentário ou através do email: fls_80@hotmail.com

17 de fevereiro de 2011

Da Liberdade que não temos e das Pessoas que não somos

Você já se perguntou, o quanto se tornou banal, por fim a relações de qualquer tipo entre duas pessoas, em nome de uma suposta liberdade individual? Já percebeu, o quanto nossa naturalidade está prostituída, isso mesmo PROSTITUÍDA, com os valores e desejos da economia capitalista e suas distintas armas? Observou, o quanto vem sendo adotado um discurso único, de que os sentimentos são desejos determinados, de acordo com as interpretações econômicas e jurídicas, que damos a eles, em um destinado tempo? Já notou o quanto “o amor de novelas”, vem sendo materializado nos desejos de consumidores, cada vez mais vorazes, por um novo capítulo de sexo e drama? Por que será que analistas preveem a solidão como o mal dessa e das próximas gerações?

Se tentando responder as provocações acima, o leitor, considerar que são apenas hipóteses falaciosas de um escritor abalado, por cotidianos e desilusões diversas, com certeza você não assistiu nem um canal de TV, seja ele local ou nacional, não acessou nenhum blog na net ou outro tipo de infromação virtual, muito menos deve ter se dedicado, anarquicamente e afetivamente, por um determinado tempo de sua existência, a alguém. Não se trata somente da relação homem e mulher ou sexo e amor, mas de todas, que envolvem desde a eterna guerra dos sexos, até as relações mais singelas entre amigos, embora, tenha sido a relação homem e mulher a que mais alterou a percepção do mundo, das pessoas e seus sentidos. Resta inferir, que não se faz aqui uma defesa melancólica do passado, muito menos se pretende, um combate ansioso ao futuro.

Talvez, se possam trocar todas as vociferações acima, por outras, pensadas e profetizadas ainda no século passado, por Hakim Bey, filósofo, poeta, cientista social e libertário, nascido nos Estados Unidos, sem com isso perder nosso raciocínio inicial: Estamos nós, que vivemos no presente, condenados a nunca  experimentar a autonomia, nunca pisarmos, nem que seja por um momento sequer, num pedaço de terra governado apenas pela liberdade?  Estamos reduzidos a sentir nostalgia pelo passado, ou pelo futuro? Devemos esperar  até que o mundo inteiro esteja livre do controle político para que pelo menos um de nós possa afirmar que sabe o que é ser livre? 

O que se presencia no cotidiano, comum a todos, é uma separação em nome da liberdade e da igualdade entre os diferentes, discurso esse, que encontra sua base assentada na produção de verbalizações ideológicas e leis, destinados a defender os direitos no geral e a liberdade individual. Esse divórcio, vem causando no espaço humano, a materialização de guetos, coletivos de iguais, reunidos com um propósito em defesa de um objetivo. O propósito é a liberdade, o objetivo é a igualdade. Imaginando todos, ser possível, determinar que sejamos plenamente livres em algum momento ou como se a igualdade residisse na separação de idéias e dos diferentes, ou quem sabe ainda, na imposição através de leis, que em muitos casos, apenas reproduzem, ampliam ou invertem, a intolerância ao diferente. 
 
Nelson Rodrigues, em um de seus ataques de inteligência desabafou certa vez: TODA UNANIMIDADE É BURRA, e não importa se esta se manifesta através de grupos organizados ou de poderes constituídos, democraticamente ou não. O que se viu, no diário cotidiano desta primeira década do século XXI, foi uma massificação explosiva de grupos diversos lutando para expor e hegemonizar suas ideologias, enquanto que em outro extremo,  esquecemos, cada vez numa proporção maior e mais veloz, que as relações entre as pessoas se dão em primeiro plano pelo contraste, mas acima de tudo ou antes de mais nada, pelo dialogo justo entre as diferentes partes e não pela submissão a ideologias. 

A liberdade individual ou de grupos que pensam iguais, estabelecida como cúmulo máximo da ideologia humana, foi diversamente propagandeada na segunda metade do século passado, porém o ápice dessa ideologização maciça  se deu com mais intensidade,  ao longo da década de 80, pejorativamente conhecida, como a década perdida.  No Brasil, o principal reflexo desta década, foi à derrocada do autoritarismo militar, iniciado em 1964, quando ainda vivíamos no planeta todo, sob a égide da segunda década, de predomínio do discurso ideológico, bi polarizado, entre capitalismo e socialismo. Porém, o principal elo que uniu os anos 80, foi sem dúvida, a queda do muro de Berlim, em 1989, materializando, o fim da divisão mundial, entre aqueles que eram obrigados a pensar iguais; e aqueles que são obrigados a pensar livre, ou que seja, a derrocada do socialismo prático e a hegemonia completa do capitalismo oportuno. 
 

O século XX, foi marcado pela presença de guetos diversos, seja os mais descabidos da Alemanha Nazista, ou seja, a própria divisão do mundo em dois guetos distintos, que colocaram de um lado os capitalistas e seu modo de viver made in USA; e no outro extremo, os socialistas e sua utópica igualdade de condições universal, sendo em ambos os casos, o estado o grande bem feitor de tais condições. No entanto, a superação institucional do socialismo, no final da década perdida, não somente enfraqueceu a utópica luta por igualdade, mas também potencializou a promoção da diferença, cordialmente defendida por organizações ou grupos sociais, que se dizem sempre, serem os mais novos e legítimos, “desmarginalizadores”, de todo o substrato social.

Assiste-se uma espécie de “BBB” global, onde diversos agentes sociais estão se organizando em busca da igualdade de condições, ao mesmo tempo em que livremente se digladiam, como que em um jogo constante, na busca categórica de um prêmio, a massificação da igualdade por intermédio de políticas públicas diversas, como se fosse possível direcionar todos a pensarem de um único jeito e serem livres de uma única forma. A universalidade,  é uma característica marcante que une homens e mulheres, sejam eles,  gays ou heteros, negros ou brancos, africanos ou brasileiros, enquanto seres livres e pensantes que dominam hegemonicamente o planeta Terra e seus recursos naturais, a principal fissura existente nas relações estabelecidas entre estas espécies de animais terráqueos, localiza-se na sua histórica luta por dominação e ocupação do planeta e por suas identidades, biologicamente diferenciadas.

O que há de errado nisso, até aqui? Nada, sempre lutamos por poder, seja na idade do fogo, ou seja, na idade média, a não ser que, aprendemos com os revolucionários reprimidos do século passado, a vender ao estado e a mídia nosso direito de compreensão e percepção do outro e passamos a aceitar na forma da lei e em defesa da democracia, flashbacks da igualdade e da liberdade, reproduzidos e fragmentados de um todo e ofertado  em partes, com interesses próprios e não de um coletivo universal. 

Esquecemos, que o fim do socialismo, significou primordialmente a submissão total dos estados nacionais aos mecanismos de domínio ideológico do capitalismo, e simultaneamente, suas populações são submetidas aos desígnios do interesse privado e do consumo exagerado. 

Assim como Pedro Bial, nossos governantes parecem dirigir uma grande casa, onde seus participantes são meticulosamente observados e exageradamente incitados a promover panelinhas, que os permitam chegar a um objetivo final, ganhar um prêmio máximo por sobreviver na democracia capitalista e suas leis de estados constituídos, ou seja, a aparente união da humanidade que se anuncia pode ser benéfica, apenas para aquele(s) grupo(s) que melhor conseguir (em) articular seus jogadores, em torno de um coletivo qualquer e seus objetivos, porém, para que isso possa ocorrer, parece que se torna necessário eliminar qualquer discurso contrário, que venha contradizer a maioria embelezada de propaganda ou denegrir a minoria representante do poder.
E quando isso não ocorre, basta mandar o indisciplinado(s) para o paredão, eliminando sua forma de pensar, com uma enxurrada de votos democraticamente programados, ou, não se tratando de um programa de televisão, basta mandar prender mais um, educá-lo em presídios públicos, como punição pela coragem de se rebelar contra a enlouquecida massa e sua ideologia capitalista, embriagada de propagandas, produtos ou mercadorias.

Há de se questionar, onde fica a Educação, nesse processo todo, porém não aqui e nem agora, se faz oportuno discorrer sobre tal assunto, com a devida abrangência que é necessária, não é esse o norte pretendido aqui, contudo, para não deixar mais uma questão em aberto, concordo com o matemático e professor da USP Luciano Castro Lima, em artigo publicado no livro Geografia em Perspectiva: Educar é emancipar o existir humano, nem tanto pelo encanto da palavra, mas pela beleza de se ter a fala.


 Imagininemos, se a comunidade gay conseguir plasmar todos os seus ideais? Ou, como será se as mulheres conseguirem superar os homens em todos os sentidos, como esperam algumas feministas, potencialmente acometidas pelo mau de electra? Imagine se os heteros, homens ou mulheres, resolvem se organizar em grupos, para defender a existência dos igualmente diferentes? Ou quem sabe, Osama Bin Laden, caso ainda vivo, consiga impor seu modo de conceber o mundo? Como seria se algumas dessas situações fossem materializadas? Ora, em qualquer caso seria necessário extirpar o outro com uma lei ou uma arma, a exemplo do que fez Hitler ou os vencedores da II Guerra Mundial. Somente assim, na extinção e na imposição se é possível hegemonizar uma forma de pensamento que promova a igualdade. Somos iguais, apenas na condição de ser humano que racionaliza o que sente? Ou somente conseguiremos ser livres, sempre que exercemos, de qualquer maneira, nosso poder, sobre o outro? 

Nenhuma teoria deve ser posta somente como provocação, muito menos como indutora de verdades únicas, o diálogo é o melhor método para se chegar ao consenso e a liberdade de pensamento, nesse sentindo, revolta-se ao início deste artigo, mais precisamente ao libertário Hakim Bey e sua ideologia, talvez assim, ele direcione melhor o diálogo, entre a razão do ser e seu sentir, estabelecido até então, segundo ele: A razão diz que o indivíduo não pode lutar  por aquilo que não conhece. E o coração revolta-se diante de um universo tão cruel a ponto de cometer tais injustiças justamente com a nossa, dentre  todas as gerações da humanidade.

 Nenhuma ideologia, por mais bem elaborada, defendida e necessária que seja, deveria servir de gueto para proteger um grupo em detrimento do outro, pelo contrário, reconhecer que o outro pensa diferente, é um ponto de partida para se chegar ao consenso sobre o que é liberdade, um caminho mais humano e menos prostituído, para uma espécie de animal que se orgulha em se diferenciar dos demais, por ser capaz de formular e materializar pensamentos e sentimentos. Ressalte-se aqui, o termo prostituído, retire-se dele qualquer interpretação que direcione a condenar os prazeres sexuais, independente de quais sejam as necessidades humanas, some-se a palavra, qualquer interpretação que conduza a valorizar um sentimento de aviltamento da dignidade humana.


Não restam dúvidas, que vivenciamos grandes avanços na promoção da igualdade de condições entre as pessoas, porém o preço dessa igualdade tem sido generosamente esquecido, quando se entra no campo das relações pessoais e à construção de universalidades livres. Ao invés de se observar uma fraternidade maior entre as pessoas, no dia a dia, se presencia um aumento dos direitos individuais, uma virtualização dos sentimentos, uma banalização do sexo, uma substituição maciça da espiritualidade pela drogas e seus delirantes prazeres e um esquecimento cada vez mais constante dos valores sentimentais, que construímos diariamente. Ou, nas palavras de Milton Santos: Alastram-se e aprofundam-se males espirituais e morais, como os egoísmos, os cinismos, a corrupção.

Segue abaixo um vídeo intitulado LIBERDADE, ANGUSTIA E MORTE, produziddo em acordo com o pensamento de, Jean Paul Sartre, que a leitura do texto e o conhecimento do vídeo, venham se metamorfosear numa interpretação que permita ao leitor, por alguns momentos, refletir sobre sua condição de igualdade que lhe escraviza a liberdade, ou, vice-versa.

 
 Texto e seleção de Video de Fernando Liberato 

7 de fevereiro de 2011

De repente se fez a luz: Surgiu a mulher.

Há muito tempo atrás, ainda no século XVIII, precisamente na Europa, nascia o Iluminismo ou filosofia das luzes, entendendo que, o homem após passar por anos de repressão ideológica na idade média, renasce a partir do século XV, sob o julgo dos Reis e da santa madre Igreja, mas é nas luzes dos anos de 1700, que acontece o principal divórcio da história humana conhecida atualmente no ocidente. O Iluminismo, ao contrário do Renascimento, significou não apenas a perca do poder da Igreja e da fé cristã nascida na decadente Roma, mas o descarte de uma Instituição que tinha no poder sobrenatural e na tradição histórica e patriarcal, os principais alicerces de sua existência, para a adoção de um mecanismo totalmente controlado pela razão humana e suas explicações terrestres, demarcadas em leis ou em explicações científicas.


Esse divórcio não significou apenas a superação do controle ideológico de uma Instituição por outra mais moderna, simbolizou uma mudança ideológica jamais antes observada, pois a verdade ou conhecimento sobre a verdade humana deixou de se dar ou ser aceita, pelo simples fato de ter sido estabelecida por um Deus e repassada de acordo com nossos antepassados e suas tradições históricas. O homem, em seu estado naturalmente terrestre, passou a ser a medida de todas as coisas, sua razão, construída a partir de sua observação, de acordo com seus cálculos e aplicada conforme suas leis ocuparam o trono do divino céu, criando uma nova razão para explicar a existência do homem e do próprio planeta.


No entanto, algumas tradições não caem de imediato e para tanto se faz necessário manter a tradição dos mártires que dão suas vidas em nome de uma causa, que não apenas atenda sua época ou aos seus interesses, mas promova uma maturidade a todas as gerações.  O pensamento humano eternamente escravizado a deus, até a ascensão do Iluminismo, não trouxe de imediato a mesma liberdade a todos, mantinha-se a tradição patriarcal, ou seja, nossos irmãos homens se sentindo superiores de acordo com sua força física, justificados na Igreja, marginalizavam a leveza de poder do pensamento de nossas mulheres e somente algumas pequenas heroínas, se aventuravam a dançar contra o ritmo imposto por aqueles que dirigiam o poder.

Em 1791 a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, na França, significou potencialmente a valorização da liberdade individual e o reconhecimento da igualdade entre os HOMENS, no entanto, nossos machos que desde sempre foram às figuras principais, na construção e administração de nossas instituições, mantiveram-se como deuses oniscientes, onipresentes e onipotentes dos direitos e deveres de nossas fêmeas, contrariando desde o principio, as luzes da igualdade, mantendo as mulheres presas aos velhos dogmas nascidos, mesmo antes da Idade Média. Foi necessário aparecer sob o céu Iluminista, algumas revolucionárias que ao seu tempo se rebelaram ao seu modo, como
Olympe de Gouges ou Marie Gouze, que naquele mesmo ano protestando contra as luzes da liberdade masculina, divulga OS DIREITOS DA MULHER E DA CIDADÃ.


Semelhante à declaração dos homens contendo XVII artigos, na sua declaração de emancipação da mulher, Olympe ou Gouze torna-se uma das pioneiras do movimento feminista mundial no século das luzes, a revolucionária acrescenta desde o inicio do documento, que o papel da igualdade deve ser exigido também para as mulheres sem, contudo, deixar de reconhecer as leis dos homens livres e de suas instituições.  No XII parágrafo Olympe, ilustra um bom exemplo que resume as necessidades ideológicas das mulheres daquele período e o que elas visavam derrubar: A garantia dos Direitos da mulher e da cidadã necessita uma maior abrangência; esta garantia deve ser instituída para o benefício de todos e não para o interesse particular daqueles a que tal garantia é confiada.

Muito se passou na retina do tempo e pouco se alteraram os costumes, foi preciso os “homens” promoverem duas guerras mundiais, num período de 30 anos e quase levar suas indústrias a falência por falta de mão de obra, sem mencionar a quantidade de corações viúvos e órfãos de pai, por causa das guerras, para que se tornasse possível acelerar a concretização do “feitiço” revolucionário, idealizado pela pioneira francesa, guilhotinada devido aos seus ideais de emancipação, ainda na última década do século XVIII. Com intuito de saciar sua ânsia de órfão na busca de explicar uma razão equilibradamente humana, que justificasse a existência do planeta Terra e dos mistérios que envolvem seu surgimento e o da sua população, o homem criou a ciência, como principal substituta das explicações divinas e o estado como principal representante do poder.

A ciência e a evolução dos seus métodos de pesquisa permitiram, ao lado da razão gananciosa do homem por poder, uma ruptura radical na concepção de conceitos e explicações que justificassem a igualdade, ao invés da superioridade entre os sexos, naturalmente diferentes desde suas concepções, porém inexistentes na ausência de contato entre os dois. No entanto, o estado com suas leis, controladas pelos maridos de nossas dedicadas mães cristãs, foram os principais responsáveis por perpetuar ao longo dos séculos a negação da sensível inteligência feminina. Antes de prosseguir, é necessário orientar que o termo sensibilidade aqui nada se compara a frágil de fraca ou inferior, pelo contrário, refere-se à capacidade de ser a única da espécie humana a sentir o planeta como mãe, ou seja, aquela que é capaz de gerar vida humana em seu interior e que segundo a crença histórica ficou relegada ao papel social de apenas reproduzir, cuidar do lar e instruir a família cristã, como se a mesma por ser dotada, entre tantos outros, de tão belo atributo, (o de ser mãe), tivesse que ser punida.

Também não podem ser desconsideradas as imposições psicológicas a que foram submetidas, seja pela sociedade, ou seja, pelo estado em suas distintas épocas, todas aquelas que ousassem desafiar a ordem vigente, outro panorama que contribui para a marginalização da mulher, tão importante quanto qualquer um já apresentado aqui, é o que negou durante muito tempo a acessibilidade feminina ao conhecimento cientifico, desenvolvido nas escolas e universidades, criadas a partir da revolução Iluminista tendo como principal missão, instruir e formar cidadãos para o novo mundo. Todo este escrutínio teórico, traçado metodologicamente na História, se faz necessário para orientar e localizar qualquer que seja a defesa de conquista de espaços, tipicamente considerados masculinos, pelas mulheres. O século XX permitiu, como nunca antes na História humana, o desabrolhar da mulher para um novo mundo de conquistas, porém não existiriam mudanças não fossem à coragem das mulheres de se organizarem em busca da defesa de novos direitos e novos deveres.

A decadência econômica, causada ao longo das duas grandes Guerras, por falta de mão de obra masculina, retirada pelo governo dos postos de trabalho para o fronte militar, levou a mulher a ocupar o lugar do homem, na produção industrial. Porém, essa conquista não se desenrolaria não fossem as primeiras feministas martirizadas de alguma forma, seja com a morte, a exemplo das operárias queimadas vivas na Triangle Shirtwaist, em Nova York, no ano de 1911, ou seja,  aquelas que foram ideologicamente utilizadas, como na propaganda stalinista da Rússia socialista. No Brasil, é possível evocar de imediato ainda no século XIX, nomes importantes como o de
Nísia Floresta Brasileira Augusta
ou de Francisca Edwiges Neves Gonzaga - Chiquinha Gonzaga. Esta última, é uma importante musicista brasileira de família aristocrática, nascida naquele século e contrariando os limites de seu tempo, separou-se do sempre ausente marido e como pena principal foi marginalizada de diversas maneiras, pelo próprio marido e pela sociedade, ao ponto de ser proibida de ver seus dois filhos mais novos.

Nísia, inspirada no feminismo inglês, foi responsável por escrever a primeira obra literária a tratar dos direitos da mulher, no Brasil, porém a falta de instrução adequada por parte de educadores e por que também não dizer do movimento feminista nacional e local, leva a obra desta autora a permanecer no ostracismo e seu reconhecimento talvez se der com mais eloqüência, apenas no Rio Grande do Norte, onde seus feitos foram exaltados ao oferecerem seu nome a uma cidade. No entanto, não é somente este o reconhecimento que deve ser destinado a esta pioneira, que pode ser apontada como a primeira feminista brasileira e da América Latina. Ainda na primeira metade do século passado, podem ser ressaltados os nomes de Alzira Soriano, eleita em 1928, prefeita de Lajes cidade no semi árido potiguar, fato este usado para demonstrar que a mulher já ocupava cargo de liderança política no país, mesmo antes de algumas conquistarem o direito de votar em 1932.

Após a segunda Guerra mundial, a sociedade global é dividida em duas correntes ideológicas dominantes, de um lado o socialismo e a imposição utópica da igualdade universal e do outro, o capitalismo, assentado na propriedade privada, no consumo e na individualidade. Este antagonismo predominou hegemonicamente durante quase toda uma metade do século passado, e, é no bojo dessa divisão que emerge as principais correntes ideológicas que manipulam ou justificam o discurso feminista no Brasil e no mundo atualmente.

Graças à aceitação ou a imposição desse discurso, sem esquecer que por trás dele se esconde um ser racional, é que as mulheres obtiveram conquistas históricas, como o combate através da criminalização da violência doméstica ou social, contra o gênero feminino. Cabe destacar que, esta violência doméstica sempre é uma causa social e pode afetar tanto homens quanto mulheres, mas devido à força física biologicamente explicada pela ciência e teoricamente justificada pela história, o homem sempre se sobressaiu sobre as mulheres. Contudo, qualquer forma de violência deve ser combatida, no entanto nem todas têm as mesmas raízes históricas ou culturais e, portanto, nem sempre a leitura que se oferece a uma situação de violência deve ser o mesmo que se destina a outra, aparentemente semelhante.

A queda da bipolaridade na ideologia mundial, no final dos anos 80, permitiu a ascensão de variados grupos coletivos, como o movimento negro, o movimento gay e tantos outros e no meio destes, as mulheres ganham status de sujeitos da história e iniciando de imediato uma massificação da defesa dos direitos femininos. A emergência de um novo momento na História ocasiona uma releitura na ideologia da sociedade global, permitindo interpretar o sujeito como um indivíduo que pertence a um coletivo específico necessário de ser protegido, descaracterizando a identidade natural de um ser universal ou igual, enquanto habitante terrestre. É sobre esta ambigüidade, que o movimento de mulheres, a partir dos anos 70 conseguiu criar e fortalecer a unidade em torno de seu discurso fortalecendo a defesa do gênero feminino.

Em artigo publicado no ano de 2006, no livro Geografia em Perspectiva, a historiadora Rachel Soihet, da Universidade Federal Fluminense, defende um movimento dialético ou dialógico, na construção dos direitos de autonomia e igualdade das mulheres. Apresentando algumas contradições históricas, presentes em diversas interpretações que marcam o movimento das mulheres em busca da igualdade de condições, a historiadora baiana, aponta que a oposição HOMEM x MULHER, concretizada na década de 1970, traz de imediato a quebra da identidade do sujeito como um ser universal e nesta fissura se esquece que a história de um, não existiria, não fosse a história do outro.

Ainda segundo a estudiosa da universidade fluminense, outro aspecto relevante na revolução feminina que deve ser considerado, “refere-se ao predomínio de imagens que atribuíam às mulheres os papéis de ‘vítima’ ou de ‘rebelde’”. Esse discurso favoreceu e por que não dizer favorece, em partes, a superação da mulher maltrapilha, humilhada, prostituída fazendo emergir a “mulher rebelde”, que segundo SOIHET descreve ela é: “Viva e ativa, sempre tramando, imaginando mil astúcias para burlar as proibições, a fim de atingir seus propósitos”. (P38 -2006).

Se por um lado, mudam-se as ideologias e simultaneamente as pessoas se transformam, por outro, se muda o focu de interpretação dos fatos, ao invés de somente se utilizar uma verdade histórica e universal, que torna a mulher uma pobre vítima do homem e usá-la como justificativa para defender a construção de merecidos direitos, mas do que nunca se faz necessário, impregnar qualquer seja a análise, estudo ou interferência efetiva, de uma radiografia do cotidiano onde se desenrolam os fatos e as vitórias femininas. É necessário compreender que não se trata de ofertar uma revanche histórica ao homem, mas reconhecer a complexidade do momento atual possibilitando a construção da igualdade, não à substituição do explorador pelo explorado.

A evolução é feminina e não pode se permitir copiar os métodos masculinos na conquista de espaços e, portanto não se pode abandonar a sensibilidade, em nome do poder racionalmente construído como sempre fizeram nossos machos. Olympe de Gouze na França Iluminista, as operárias revolucionárias em Nova York ou Nísia e Chiquinha, no Brasil e tantas outras que poderiam ser citadas, a exemplo de Margarida Maria Alves, não se tornaram referencias importantes da história universal ou local, defendendo por pura rebeldia a superação de um modelo de poder por outro ou simplesmente se colocando no papel de vítimas sociais, mas interferindo de maneira menos oportunista ou tendenciosa.

Ou, nas palavras mais sensíveis de Roger Chartier, importante historiador francês do século XX: “definir os poderes femininos, permitidos por uma situação de sujeição e de inferioridade, significa entendê-los com uma reapropriação e um desvio dos instrumentos simbólicos que instituem a dominação masculina, contra o seu próprio dominador” ( Chartier, 1995, p, 40-42; IN: Cadernos Pagu  - Fazendo História das Mulheres) . Não poderia terminar diferente este texto a não ser louvando a capacidade mental de evolução universal da espécie humana, para tanto utilizo Pearl Jam
. 

Este texto é dedicado a todas as mulheres que lutam digninamente por igualdade, porém em especial quero referenciar três, a Filosofa: Angela Maria Farias Alburquerque; a Sociologa: Marlene de Souza Sizernando Liberato e a Geografa: Suana Medeiros Silva.


 

Texto e seleção de video de Fernando Liberato - Geográfo.



22 de janeiro de 2011

Qualquer sonho é uma esperança?

     Inicia-se aqui a primeira publicação deste blog, antes de qualquer vociferação, é necessário orientar ao leitor sobre os objetivos dos textos que servirão para compor este espaço.De imediato se reduz a simples comunicação de idéias, gestadas no útero cerebral do autor, ou seja, divulgar a carga ideológica do escritor que produziu esta leitura.Também é necessário, reconhecer e esclarecer qualquer dubiedade que o título do blog possa causar. ARCA DO APOCALIPSE, não se destina a explicar, defender ou contrariar a verdade sagrada de qualquer tipo de credo religioso, a pretensão é filosófica, não importando se é reconhecida pela ciência ou somente pelo senso comum. ;
       Como ponta pé inicial, escolhi, “geografizar”  VERDADES E MENTIRAS como filosofias de vida, que se extinguem, se renovam e se diferenciam a cada cotidiano traçado sorrateiramente sobre o planeta Terra e seus habitantes, pelos agentes do tempo e seus desígnios históricos. Aqui não se pretende decifrar a Verdade, muito menos extinguir a Esfinge que assombra o mundo atualmente, assim como já fez Édipo na mitologia da Grécia de Sófocles, apenas provocar discussões sobre verdades e mentiras, conhecimentos ou desconhecimentos que marcam nossa atualidade histórica. 
      Assim como no cotidiano histórico de Édipo, nosso cotidiano é marcado por verdades dúbias, o fenômeno da globalização mundial por meio das técnicas de comunicação e informação, nos faz perceber um mundo único, onde tudo é possível de ser conhecido e passível de ser explorado. Conseguintemente a esta simultaneidade de fenômenos e fatos, a sensibilidade torna-se algo majoritariamente virtual e a concepção de verdades e mentiras se efetivam amplamente e constantemente ofertam a cada um sua própria Esfinge. Na Grécia Antiga, a Esfinge estava localizada na entrada de Tebas, interrogando a todos que por ventura viessem à cidade, com a seguinte pergunta: “Que criatura pela manhã tem quatro pés, ao meio-dia tem dois, e à tarde tem três?” Ao responder que era o homem, Édipo, decifrou o enigma e libertou os tebanos dos desígnios da Esfinge, tornando-se rei, porém, ao se livrar do estrangulamento, ofertado a todos aqueles que não decifrassem a pergunta do ser mitológico, ele, mergulha no seu próprio destino efetivando a previsão do oráculo, feita anteriormente ao seu nascimento, de que o mesmo, mataria seu pai e assumiria o trono dos tebanos, casando-se com sua mãe.

     Não cabe aqui discorrer sobre a tragédia única de Édipo, como bem fez Sófocles ou Freud, mas localizar nessa narrativa mitológica, um momento de transição único na história do ocidente que seja similar ou parecido ao vivenciado atualmente, com a globalização do conhecimento e das técnicas. A decodificação do enigma da esfinge simboliza a superação das imposições “divinas” de uma entidade superior e seus conhecimentos, favorecendo a verdade humana, construída racionalmente e individualmente.
      Milton Santos, no livro Por uma outra globalização: Do pensamento único a consciência universal, afirma que vivemos um momento de paradoxos, onde o mundo é apresentado como sendo uma “fábula perversa”, porém não deixando de ofertar possibilidades diversas. O discurso único, imposto pelos mais variados meios de comunicação, nos levar a perceber que estamos numa espécie de “ALDEIA GLOBAL”, porém o que se observa na realidade diária é que essa aldeia é um espaço disponível a poucos e que a unidade humana ferozmente tão sonhada por todos, desde os tempos de Édipo Rei, não passa de uma “Ideologização maciça” que tem na comunicação e na informação a base essencial para o “exercício de fabulações”.
      Reflexos deste emaranhado de informações e tecnologias no cotidiano podem ser observados na paradoxal defesa da unidade de valores e a exacerbada luta da individualidade pela liberdade do pensamento coletivo, oferecendo simultaneamente, a possibilidade da igualdade de condições e a fraternidade entre os diferentes, como se todos fossemos obrigados a sermos autênticos, ao mesmo tempo em que precisamos aceitar todas as outras identidades e suas autonomias. Esse pandemônio de ideologia, somada ao poder das técnicas de comunicação, acelera constantemente a marginalização de povos e suas culturas, valores e saberes são extirpados constantemente, como se não carregassem em si nenhum romantismo histórico, que justificasse a certeza de existirem, nas luzes do mundo globalizado. 
       No entanto, não é somente de fantasias que se alimenta o imaginário, em tempos de globalização, também surge um mundo menos apocalíptico e mais justo. As metamorfoses do mundo globalizado, em partes são veementemente incompreendidas, pois se de um lado ocorre à destruição de verdades criadas ao longo de milênios, séculos ou décadas de história, por outro ângulo, se torna possível um mundo mais solidário, menos desigual, uma vez que nunca o indivíduo dominou tanto o conhecimento de si e dos outros, como na atualidade.
     Para tanto é necessário democratizar os meios de informação, oferecer acessibilidade ao conhecimento, modernizar a educação e seus métodos, enfim, é necessário reconhecer a hegemonia do individuo sobre o planeta e sua capacidade técnica de evolução, partindo do conhecimento de si e se alastrando ao conhecimento do coletivo e das suas individualidades.
    Ou nas palavras de Milton Santos: “Agora que estamos conhecendo o sentido de nossa presença no planeta, pode-se dizer que uma história universal verdadeiramente humana está, finalmente, começando. [...] Basta que se completem as duas grandes mutações ora em gestação: a mutação tecnológica e a mutação filosófica da espécie humana.”

Texto: Fernando Liberato. fls_80@hotmail.com