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7 de fevereiro de 2011

De repente se fez a luz: Surgiu a mulher.

Há muito tempo atrás, ainda no século XVIII, precisamente na Europa, nascia o Iluminismo ou filosofia das luzes, entendendo que, o homem após passar por anos de repressão ideológica na idade média, renasce a partir do século XV, sob o julgo dos Reis e da santa madre Igreja, mas é nas luzes dos anos de 1700, que acontece o principal divórcio da história humana conhecida atualmente no ocidente. O Iluminismo, ao contrário do Renascimento, significou não apenas a perca do poder da Igreja e da fé cristã nascida na decadente Roma, mas o descarte de uma Instituição que tinha no poder sobrenatural e na tradição histórica e patriarcal, os principais alicerces de sua existência, para a adoção de um mecanismo totalmente controlado pela razão humana e suas explicações terrestres, demarcadas em leis ou em explicações científicas.


Esse divórcio não significou apenas a superação do controle ideológico de uma Instituição por outra mais moderna, simbolizou uma mudança ideológica jamais antes observada, pois a verdade ou conhecimento sobre a verdade humana deixou de se dar ou ser aceita, pelo simples fato de ter sido estabelecida por um Deus e repassada de acordo com nossos antepassados e suas tradições históricas. O homem, em seu estado naturalmente terrestre, passou a ser a medida de todas as coisas, sua razão, construída a partir de sua observação, de acordo com seus cálculos e aplicada conforme suas leis ocuparam o trono do divino céu, criando uma nova razão para explicar a existência do homem e do próprio planeta.


No entanto, algumas tradições não caem de imediato e para tanto se faz necessário manter a tradição dos mártires que dão suas vidas em nome de uma causa, que não apenas atenda sua época ou aos seus interesses, mas promova uma maturidade a todas as gerações.  O pensamento humano eternamente escravizado a deus, até a ascensão do Iluminismo, não trouxe de imediato a mesma liberdade a todos, mantinha-se a tradição patriarcal, ou seja, nossos irmãos homens se sentindo superiores de acordo com sua força física, justificados na Igreja, marginalizavam a leveza de poder do pensamento de nossas mulheres e somente algumas pequenas heroínas, se aventuravam a dançar contra o ritmo imposto por aqueles que dirigiam o poder.

Em 1791 a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, na França, significou potencialmente a valorização da liberdade individual e o reconhecimento da igualdade entre os HOMENS, no entanto, nossos machos que desde sempre foram às figuras principais, na construção e administração de nossas instituições, mantiveram-se como deuses oniscientes, onipresentes e onipotentes dos direitos e deveres de nossas fêmeas, contrariando desde o principio, as luzes da igualdade, mantendo as mulheres presas aos velhos dogmas nascidos, mesmo antes da Idade Média. Foi necessário aparecer sob o céu Iluminista, algumas revolucionárias que ao seu tempo se rebelaram ao seu modo, como
Olympe de Gouges ou Marie Gouze, que naquele mesmo ano protestando contra as luzes da liberdade masculina, divulga OS DIREITOS DA MULHER E DA CIDADÃ.


Semelhante à declaração dos homens contendo XVII artigos, na sua declaração de emancipação da mulher, Olympe ou Gouze torna-se uma das pioneiras do movimento feminista mundial no século das luzes, a revolucionária acrescenta desde o inicio do documento, que o papel da igualdade deve ser exigido também para as mulheres sem, contudo, deixar de reconhecer as leis dos homens livres e de suas instituições.  No XII parágrafo Olympe, ilustra um bom exemplo que resume as necessidades ideológicas das mulheres daquele período e o que elas visavam derrubar: A garantia dos Direitos da mulher e da cidadã necessita uma maior abrangência; esta garantia deve ser instituída para o benefício de todos e não para o interesse particular daqueles a que tal garantia é confiada.

Muito se passou na retina do tempo e pouco se alteraram os costumes, foi preciso os “homens” promoverem duas guerras mundiais, num período de 30 anos e quase levar suas indústrias a falência por falta de mão de obra, sem mencionar a quantidade de corações viúvos e órfãos de pai, por causa das guerras, para que se tornasse possível acelerar a concretização do “feitiço” revolucionário, idealizado pela pioneira francesa, guilhotinada devido aos seus ideais de emancipação, ainda na última década do século XVIII. Com intuito de saciar sua ânsia de órfão na busca de explicar uma razão equilibradamente humana, que justificasse a existência do planeta Terra e dos mistérios que envolvem seu surgimento e o da sua população, o homem criou a ciência, como principal substituta das explicações divinas e o estado como principal representante do poder.

A ciência e a evolução dos seus métodos de pesquisa permitiram, ao lado da razão gananciosa do homem por poder, uma ruptura radical na concepção de conceitos e explicações que justificassem a igualdade, ao invés da superioridade entre os sexos, naturalmente diferentes desde suas concepções, porém inexistentes na ausência de contato entre os dois. No entanto, o estado com suas leis, controladas pelos maridos de nossas dedicadas mães cristãs, foram os principais responsáveis por perpetuar ao longo dos séculos a negação da sensível inteligência feminina. Antes de prosseguir, é necessário orientar que o termo sensibilidade aqui nada se compara a frágil de fraca ou inferior, pelo contrário, refere-se à capacidade de ser a única da espécie humana a sentir o planeta como mãe, ou seja, aquela que é capaz de gerar vida humana em seu interior e que segundo a crença histórica ficou relegada ao papel social de apenas reproduzir, cuidar do lar e instruir a família cristã, como se a mesma por ser dotada, entre tantos outros, de tão belo atributo, (o de ser mãe), tivesse que ser punida.

Também não podem ser desconsideradas as imposições psicológicas a que foram submetidas, seja pela sociedade, ou seja, pelo estado em suas distintas épocas, todas aquelas que ousassem desafiar a ordem vigente, outro panorama que contribui para a marginalização da mulher, tão importante quanto qualquer um já apresentado aqui, é o que negou durante muito tempo a acessibilidade feminina ao conhecimento cientifico, desenvolvido nas escolas e universidades, criadas a partir da revolução Iluminista tendo como principal missão, instruir e formar cidadãos para o novo mundo. Todo este escrutínio teórico, traçado metodologicamente na História, se faz necessário para orientar e localizar qualquer que seja a defesa de conquista de espaços, tipicamente considerados masculinos, pelas mulheres. O século XX permitiu, como nunca antes na História humana, o desabrolhar da mulher para um novo mundo de conquistas, porém não existiriam mudanças não fossem à coragem das mulheres de se organizarem em busca da defesa de novos direitos e novos deveres.

A decadência econômica, causada ao longo das duas grandes Guerras, por falta de mão de obra masculina, retirada pelo governo dos postos de trabalho para o fronte militar, levou a mulher a ocupar o lugar do homem, na produção industrial. Porém, essa conquista não se desenrolaria não fossem as primeiras feministas martirizadas de alguma forma, seja com a morte, a exemplo das operárias queimadas vivas na Triangle Shirtwaist, em Nova York, no ano de 1911, ou seja,  aquelas que foram ideologicamente utilizadas, como na propaganda stalinista da Rússia socialista. No Brasil, é possível evocar de imediato ainda no século XIX, nomes importantes como o de
Nísia Floresta Brasileira Augusta
ou de Francisca Edwiges Neves Gonzaga - Chiquinha Gonzaga. Esta última, é uma importante musicista brasileira de família aristocrática, nascida naquele século e contrariando os limites de seu tempo, separou-se do sempre ausente marido e como pena principal foi marginalizada de diversas maneiras, pelo próprio marido e pela sociedade, ao ponto de ser proibida de ver seus dois filhos mais novos.

Nísia, inspirada no feminismo inglês, foi responsável por escrever a primeira obra literária a tratar dos direitos da mulher, no Brasil, porém a falta de instrução adequada por parte de educadores e por que também não dizer do movimento feminista nacional e local, leva a obra desta autora a permanecer no ostracismo e seu reconhecimento talvez se der com mais eloqüência, apenas no Rio Grande do Norte, onde seus feitos foram exaltados ao oferecerem seu nome a uma cidade. No entanto, não é somente este o reconhecimento que deve ser destinado a esta pioneira, que pode ser apontada como a primeira feminista brasileira e da América Latina. Ainda na primeira metade do século passado, podem ser ressaltados os nomes de Alzira Soriano, eleita em 1928, prefeita de Lajes cidade no semi árido potiguar, fato este usado para demonstrar que a mulher já ocupava cargo de liderança política no país, mesmo antes de algumas conquistarem o direito de votar em 1932.

Após a segunda Guerra mundial, a sociedade global é dividida em duas correntes ideológicas dominantes, de um lado o socialismo e a imposição utópica da igualdade universal e do outro, o capitalismo, assentado na propriedade privada, no consumo e na individualidade. Este antagonismo predominou hegemonicamente durante quase toda uma metade do século passado, e, é no bojo dessa divisão que emerge as principais correntes ideológicas que manipulam ou justificam o discurso feminista no Brasil e no mundo atualmente.

Graças à aceitação ou a imposição desse discurso, sem esquecer que por trás dele se esconde um ser racional, é que as mulheres obtiveram conquistas históricas, como o combate através da criminalização da violência doméstica ou social, contra o gênero feminino. Cabe destacar que, esta violência doméstica sempre é uma causa social e pode afetar tanto homens quanto mulheres, mas devido à força física biologicamente explicada pela ciência e teoricamente justificada pela história, o homem sempre se sobressaiu sobre as mulheres. Contudo, qualquer forma de violência deve ser combatida, no entanto nem todas têm as mesmas raízes históricas ou culturais e, portanto, nem sempre a leitura que se oferece a uma situação de violência deve ser o mesmo que se destina a outra, aparentemente semelhante.

A queda da bipolaridade na ideologia mundial, no final dos anos 80, permitiu a ascensão de variados grupos coletivos, como o movimento negro, o movimento gay e tantos outros e no meio destes, as mulheres ganham status de sujeitos da história e iniciando de imediato uma massificação da defesa dos direitos femininos. A emergência de um novo momento na História ocasiona uma releitura na ideologia da sociedade global, permitindo interpretar o sujeito como um indivíduo que pertence a um coletivo específico necessário de ser protegido, descaracterizando a identidade natural de um ser universal ou igual, enquanto habitante terrestre. É sobre esta ambigüidade, que o movimento de mulheres, a partir dos anos 70 conseguiu criar e fortalecer a unidade em torno de seu discurso fortalecendo a defesa do gênero feminino.

Em artigo publicado no ano de 2006, no livro Geografia em Perspectiva, a historiadora Rachel Soihet, da Universidade Federal Fluminense, defende um movimento dialético ou dialógico, na construção dos direitos de autonomia e igualdade das mulheres. Apresentando algumas contradições históricas, presentes em diversas interpretações que marcam o movimento das mulheres em busca da igualdade de condições, a historiadora baiana, aponta que a oposição HOMEM x MULHER, concretizada na década de 1970, traz de imediato a quebra da identidade do sujeito como um ser universal e nesta fissura se esquece que a história de um, não existiria, não fosse a história do outro.

Ainda segundo a estudiosa da universidade fluminense, outro aspecto relevante na revolução feminina que deve ser considerado, “refere-se ao predomínio de imagens que atribuíam às mulheres os papéis de ‘vítima’ ou de ‘rebelde’”. Esse discurso favoreceu e por que não dizer favorece, em partes, a superação da mulher maltrapilha, humilhada, prostituída fazendo emergir a “mulher rebelde”, que segundo SOIHET descreve ela é: “Viva e ativa, sempre tramando, imaginando mil astúcias para burlar as proibições, a fim de atingir seus propósitos”. (P38 -2006).

Se por um lado, mudam-se as ideologias e simultaneamente as pessoas se transformam, por outro, se muda o focu de interpretação dos fatos, ao invés de somente se utilizar uma verdade histórica e universal, que torna a mulher uma pobre vítima do homem e usá-la como justificativa para defender a construção de merecidos direitos, mas do que nunca se faz necessário, impregnar qualquer seja a análise, estudo ou interferência efetiva, de uma radiografia do cotidiano onde se desenrolam os fatos e as vitórias femininas. É necessário compreender que não se trata de ofertar uma revanche histórica ao homem, mas reconhecer a complexidade do momento atual possibilitando a construção da igualdade, não à substituição do explorador pelo explorado.

A evolução é feminina e não pode se permitir copiar os métodos masculinos na conquista de espaços e, portanto não se pode abandonar a sensibilidade, em nome do poder racionalmente construído como sempre fizeram nossos machos. Olympe de Gouze na França Iluminista, as operárias revolucionárias em Nova York ou Nísia e Chiquinha, no Brasil e tantas outras que poderiam ser citadas, a exemplo de Margarida Maria Alves, não se tornaram referencias importantes da história universal ou local, defendendo por pura rebeldia a superação de um modelo de poder por outro ou simplesmente se colocando no papel de vítimas sociais, mas interferindo de maneira menos oportunista ou tendenciosa.

Ou, nas palavras mais sensíveis de Roger Chartier, importante historiador francês do século XX: “definir os poderes femininos, permitidos por uma situação de sujeição e de inferioridade, significa entendê-los com uma reapropriação e um desvio dos instrumentos simbólicos que instituem a dominação masculina, contra o seu próprio dominador” ( Chartier, 1995, p, 40-42; IN: Cadernos Pagu  - Fazendo História das Mulheres) . Não poderia terminar diferente este texto a não ser louvando a capacidade mental de evolução universal da espécie humana, para tanto utilizo Pearl Jam
. 

Este texto é dedicado a todas as mulheres que lutam digninamente por igualdade, porém em especial quero referenciar três, a Filosofa: Angela Maria Farias Alburquerque; a Sociologa: Marlene de Souza Sizernando Liberato e a Geografa: Suana Medeiros Silva.


 

Texto e seleção de video de Fernando Liberato - Geográfo.



2 comentários:

  1. Muito bom o texto, realmente as pessoas precisam lerem mais sobre a luta feminina pelo seu espaço e reconhecimento, é interessante como em pleno sec. XXI ainda estamos discutindo assuntos como este que deveria já está resolvido, mas ainda temos um longo caminho pela frente...
    Obg pela dedicatória. Continue assim engajado na nosso luta.
    bjsss

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  2. Fernando, tive acesso ao seu blog através do FACEBOOK e gostaria de publicar artigos seus em meu site: www.romulogondim.com.br
    Abraço e saudações educacionais

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